Só as mães são felizes

Thiago Roque
1 min readOct 26, 2022

Bauru, 21h22, supermercado.

Estou parado em frente à geladeira com os sorvetes. Não deveria, mas vou comprar um pote. Semana de merda (eu sei que estamos apenas na terça-feira, mas tá foda), estresse, gordo, faça as contas: o estrago está feito.

De repente, escuto:

- Papá! Papá!

Ignoro e sigo tentando superar a dúvida entre Tablito e MMs.

- Papá! Papá!

Finjo surdez. Não é possível que seja pra mim o tal chamado.

- Papá! Papá!

Resolvo olhar. Uma bebê fofa no colo da mãe, mas com os braços esticados na minha direção.

- Papá!

Eita porra.

- Não é seu pai, filha. Olha o papai ali!, alerta a mãe, rindo, provavelmente, da minha cara de pânico.

De longe, um cidadão também trajando camiseta preta, barba, óculos, mas com cara de orgulho, acena para a criança, que retribui:

- Papá!

Dou um sorriso amarelo que não aparece porque a barba por fazer o esconde. Saio e dou uma volta no supermercado.

Poucos minutos depois, volto para a geladeira dos sorvetes. Espio. Nada da criança. Entro no corredor, abro a geladeira, pego o sorvete e me dirijo ao caixa.

Que foi? Não sou pai, mas sou gordo.

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Thiago Roque

jornalismo, música, literatura e boas histórias - não necessariamente nessa ordem.