Só as mães são felizes
Bauru, 21h22, supermercado.
Estou parado em frente à geladeira com os sorvetes. Não deveria, mas vou comprar um pote. Semana de merda (eu sei que estamos apenas na terça-feira, mas tá foda), estresse, gordo, faça as contas: o estrago está feito.
De repente, escuto:
- Papá! Papá!
Ignoro e sigo tentando superar a dúvida entre Tablito e MMs.
- Papá! Papá!
Finjo surdez. Não é possível que seja pra mim o tal chamado.
- Papá! Papá!
Resolvo olhar. Uma bebê fofa no colo da mãe, mas com os braços esticados na minha direção.
- Papá!
Eita porra.
- Não é seu pai, filha. Olha o papai ali!, alerta a mãe, rindo, provavelmente, da minha cara de pânico.
De longe, um cidadão também trajando camiseta preta, barba, óculos, mas com cara de orgulho, acena para a criança, que retribui:
- Papá!
Dou um sorriso amarelo que não aparece porque a barba por fazer o esconde. Saio e dou uma volta no supermercado.
Poucos minutos depois, volto para a geladeira dos sorvetes. Espio. Nada da criança. Entro no corredor, abro a geladeira, pego o sorvete e me dirijo ao caixa.
Que foi? Não sou pai, mas sou gordo.