pontuação.

Thiago Roque
2 min readMay 13, 2021

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gosto do ponto final.
não de seu pretenso autoritarismo.
nem de sua vocação mais-que-hereditária para tornar tudo mais finito.
gosto, na verdade, dessa parada que ele nos permite.
Feita de tempo cronometrado para contemplar.
olhar para trás, ver se tudo faz sentido.
olhar para frente, imaginando cenas dos próximos capítulos.
no meio disso tudo, estamos lá.
pit stop do sentir, desejar, desprezar.
momento só nosso. espaço só nosso.
tudo dentro de um pontinho.
plantando mudas de um próximo passo.
a próxima frase inteligente para impressionar alguém.
se vale um sorriso ou um olhar tímido para o lado.
xingo ou chuto?
não, não posso colocar mais um ponto do lado do primeiro ponto.
erro. pane no sistema. tela azul.
ponto em cima de ponto é espera breve, quase que preguiçosa.
não compensa.
se quer pausa ousada, por mais tempo, são necessários três pontinhos.
aí, é passagem só de ida para a imaginação.
próxima estação: sabe-se lá onde.
chega no primeiro pontinho e já embarca.
parece toboágua. um deslizar sem volta.
tem gente que assusta.
tem gente que se diverte.
tem gente que não vê a hora de chegar ao final.
só para recomeçar…
enfrentando novamente vírgulas, traços, erros gramaticais.
função fática, verbetes compostos, sujeitos.
verborragia, poemas encardidos, taras linguísticas.
tudo para chegar, cansado e esbaforido, a um novo ponto.
cheio de si, todo gordinho.
todo café, todo zé mané.
com direito a tapetinho na porta: entre e fique à vontade.
só não repara na minha bagunça.

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Thiago Roque

jornalismo, música, literatura e boas histórias - não necessariamente nessa ordem.