Espelho, espelho meu

Thiago Roque
3 min readNov 18, 2023

Quem me conhece minimamente sabe que não sou muito bom com esse lance de cuidar do visual. Agora, aos 44 anos, me certifico apenas de não estar usando a cueca em cima da calça na hora de sair de casa — o desleixo se tornou colega do restante da caminhada.

Contudo, como ainda somos seres sociáveis (no meu caso, mais para o trabalho até), eu tenho alguns parâmetros para não me tornar, em poucos meses, no terrível homem do saco que amedrontava criancinhas no imaginário interiorano paulista.

O primeiro deles é com a barba. Sim, ela já é cheia e grande — e, sem corte com certa frequência, as coisas saem de controle. Percebo, inclusive, que saiu do controle quando não consigo tomar sorvete sem parecer que tomei leite diretamente numa tigela funda. Outro parâmetro é lanche: se exigiu mais de três guardanapos, é hora de tomar uma atitude. O teste também pode ser feito com macarrão e/ou sopa.

Com o cabelo, é pior: grande, ele fica volumoso e cheio de ondulações — o que, confesso, me apetece. Contudo, ao sair do banho, se a cabeleira, molhada, me faz lembrar do Luis Caldas (minha hoje ex-mulher falou isso uma vez e me traumatizou…), é hora de agendar o pet shop.

Em tempo: existe o combo da desgraceira, que é quando cabelo e barba se unem para me deixar constrangido. Situação lamentável.

Gordo que sou, não me peso. Mas sei que venho perdendo peso pelas calças que estou recuperando — inclusive, uma toda rasgada que não usava desde minha passagem em Jundiaí, há mais de 10 anos! E dá-lhe furos extras no cinto… Nova ou velha, passou no teste do pescoço, vai para o corpo (sic).

Sobre calçados, tenho dois tipos: All-Star e botinas à la Rodrigo Agostinho (quem é de Bauru pegou a referência). Quando sei a hora de trocar? Quando surgem furos — na sola, no dedão ou em outras partes vítimas da ação do tempo. Também acontece dos cadarços estragarem primeiro que os calçados — e o pisante vai sendo esquecido, já que não consigo utilizá-lo.

Camisetas são pura matemática: uma ficou muito velha (via de regra, toda fodida, gola que parece que passou um hipopótamo, furos e rasgos e assim vai), eu vou na loja e compro outra. Via de regra, na cor preta — meu guarda-roupa parece estar sempre de luto, com raríssimas exceções.

Falando em exceção, tenho a minha na hora de montar o visual: as meias. Como agora gosto de usar meias divertidas, quando um par vai para o céu das meias, busco novas estampas e cores. É quando me permito olhar as peças, paquerar modelitos, imaginar cenários, ver com qual camiseta preta a meia vai combinar mais…

Pensando bem, é um milagre eu não ter saído de casa ainda com a cueca em cima da calça.

--

--

Thiago Roque

jornalismo, música, literatura e boas histórias - não necessariamente nessa ordem.