abraço

Thiago Roque
2 min readMay 30, 2021

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Criador: Tim Robberts | Crédito: Getty Images
Criador: Tim Robberts | Crédito: Getty Images

era para ser uma despedida.

mas o abraço trouxe uma avalanche de bem-querer.

os corpos se aproximaram, se fundiram.

em segundos, eram um.

a frieza dele tirou luvas e cachecol para se aquecer no calor dela.

ah, as labaredas de “vem viver”… queimam como a dor.

as lágrimas escorriam, mas não apagavam a chama cor amor-perfeito que se formou ao redor.

ninguém entrava, ninguém saía.

os braços eram extensões de carinho. se multiplicavam, cresciam, passeavam por todo o corpo.

proteção desse mundo patético que impunha limites à felicidade pura e infantil que perseguimos tal qual cachorro à lebre.

a cabeça dele encontrava no ombro dela um travesseiro — repouso com cheiro de lavanda.

as cinturas se encaixavam.

ela podia sentir o pulsar do coração dele a quilômetros — agora, tão próxima, o barulho ensurdecedor das batidas se transformava uma bela canção zen.

nos ouvidos, os suspiros prometiam eternidade a cada abraço.

sem palavras, sem ruídos, sem visões.

apenas tato. apenas tanto.

passaram segundos, minutos, horas, além-vidas.

e, por um instante, tudo deixou de existir.

o big bang de um novo sentimento fez-se explodir silenciosamente.

em questão de milésimos, tudo foi destruído e recriado.

ele e ela ali, imóveis.

até tentaram se soltar, mas foi em vão.

já estavam perdidos um na imensidão do outro, nadando nus em um oceano de dúvidas, medos e questionamentos.

mas, nesse mar de possibilidades, encontraram uma única certeza:

não seriam mais os mesmos.

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Thiago Roque

jornalismo, música, literatura e boas histórias - não necessariamente nessa ordem.