abraço
era para ser uma despedida.
mas o abraço trouxe uma avalanche de bem-querer.
os corpos se aproximaram, se fundiram.
em segundos, eram um.
a frieza dele tirou luvas e cachecol para se aquecer no calor dela.
ah, as labaredas de “vem viver”… queimam como a dor.
as lágrimas escorriam, mas não apagavam a chama cor amor-perfeito que se formou ao redor.
ninguém entrava, ninguém saía.
os braços eram extensões de carinho. se multiplicavam, cresciam, passeavam por todo o corpo.
proteção desse mundo patético que impunha limites à felicidade pura e infantil que perseguimos tal qual cachorro à lebre.
a cabeça dele encontrava no ombro dela um travesseiro — repouso com cheiro de lavanda.
as cinturas se encaixavam.
ela podia sentir o pulsar do coração dele a quilômetros — agora, tão próxima, o barulho ensurdecedor das batidas se transformava uma bela canção zen.
nos ouvidos, os suspiros prometiam eternidade a cada abraço.
sem palavras, sem ruídos, sem visões.
apenas tato. apenas tanto.
passaram segundos, minutos, horas, além-vidas.
e, por um instante, tudo deixou de existir.
o big bang de um novo sentimento fez-se explodir silenciosamente.
em questão de milésimos, tudo foi destruído e recriado.
ele e ela ali, imóveis.
até tentaram se soltar, mas foi em vão.
já estavam perdidos um na imensidão do outro, nadando nus em um oceano de dúvidas, medos e questionamentos.
mas, nesse mar de possibilidades, encontraram uma única certeza:
não seriam mais os mesmos.